quinta-feira, 7 de junho de 2012

O defunto que devia; Vamos esperar o Setset chegar? - Angela Lago

O Defunto que devia
Ângela Lago
Em Bom Despacho um moço que devia tanto e a tanta gente que sua vida virou um inferno. O tempo todo batiam na porta dele para cobrar. Até que uma noite ele não aguentou mais e decidiu se fingir de moto.
Na manhã seguinte, quando os cobradores chegaram, encontraram o moço de olhos fechados, todo vestido de preto, quietinho, deitado em cima da mesa.
— Coitado, perdeu mais do que qualquer um de nós — eles disseram, e foram embora.
Mas um sapateiro muito sovina, a quem o moço devia um real, não quis saber de perdoar a dívida. Ficou na casa, à espera dos parentes, para cobrar de quem pudesse.
O moço lá, se fingindo de morto, e nada de parente nenhum chegar. Mesmo porque morto pobre não tem parente. Acontece que o sapateiro, além de pão duro, era cabeça dura, e não arredou o pé. Queria seu real,.
Escureceu, uns ladrões passaram por perto, viram a porta aberta, a casa em silencio, e decidiram entrar. O sapateiro só teve tempo de se enfiar debaixo da mesa.
— Era defunto desgraçado, não tem uma alma velando por ele! — Comentaram os ladrões.
E aproveitaram para dividir umas moedas que tinham roubado. Sobrou uma, e um ladrão propôs:
            — A moeda é do primeiro que enfiar uma faca no peito do morto! O defunto reviveu na hora e desandou a gritar:
— Ui ui ui!
— Ei ei ei! — O sapateiro escutou o morto gritando e, lá debaixo da mesa, também desandou a berrar.
— Quando os ladrões viram o morto gritar e escutaram aquela voz responder, saíram em correria, deixando o dinheiro para trás.
— Já iam longe quando o mais valente deles, pensando e repensando nas lindas moedas, tratou de convencer os amigos a voltar:
Voltaram. A essa altura o ex-morto já estava dividindo a fortuna com o sapateiro. Quando os ladrões chegaram perto da casa, escutaram o tilintar das moedas sendo repartidas e...
— E o meu real? E o meu real? — era a voz do sapateiro lembrando da dívida. — E o meu real?
— Ai ai ai! São muitas almas! — gritaram os ladrões — O dinheiro nem está dando!
— E desapareceram de vez, estrada afora.



Vamos esperar o setset chegar?


Meu tio vinha de uma longa viagem, perto de Bom Despacho começou uma tempestade horrorosa. Por sorte – ou por azar – ele viu uma casa abandonada. Entrou, sentou num canto para esperar a chuva passar, e como estava muito cansada, adormeceu.
Foi acordar no meio da noite com um bode bafejando na sua cara:
--- Então?
Vamos esperar o Sestset chegar?
--- Vamos ! – Ele respondeu por responder, seguro de que estava sonhando. E já ia caindo de novo naquele sonho bom quando escutou outro bode entrar pela casa:
--- Oba! Vamos começar?
---- Não, Dodô! Nós vamos esperar o Sestset chegar.
---- Só posso estar sonhando – O tio se tranqüilizou.
Nisso, entrou outro bode:
---- Então, vamos começar?
---- Calma, Tretrê. Vamos esperar o Sestset chegar? – Disseram os que já estavam lá.
E antes que meu tio tivesse tempo de perguntar se aquilo era mesmo um sonho...
---- Vamos começar? – perguntou mais um bode, com água na boca.
---- Ainda não, Quaquá! Vamos esperar o Sestset chegar! – responderam todos juntos.
Ai meu tio acordou de vez, abobalhado de pavor, e viu entrar mais um, e mais outro.
---- Vamos começar? – perguntaram ansiosos, lambendo os beiços.
---- Ainda não, Cincin e Seisei. Vamos esperar o Sestset chegar? – a turma respondeu.
Quanto nome esquisito, pensava o tio, com o resto de pensamento de que ainda era capaz. E, para suportar o medo, começou a contar nos dedos:
---- Depois do primeiro entrou Ddô, depois Tretrê, depois Quaquá, Cincin, Seisei... Já são seis com Seisei!!!
---- Ele finalmente atinou.
---- Minhas desculpas ao Setset, mas não vou esperar não! - Berrou meu tio, pulando a janela. E sumiu no mundo, deixando a gente sem um final direito para esta história.
Angela Lago



Final do conto " Uma noite no paraíso"

PROJETO CONTOS DE ASSOMBRAÇÃO

ESSE TRECHO É DE UM CONTO QUE VOCÊ JÁ CONHECE, É O INÍCIO DA HISTÓRIA. LEIA COM ATENÇÃO E CRIE UM NOVO FINAL.

UMA NOITE NO PARAÍSO
                                                                                                                                        Sylvia Manzano

             Certa vez, dois amigos inseparáveis fizeram o seguinte juramento: aquele que casasse primeiro chamaria o outro para padrinho, mesmo que esse outro estivesse no fim do mundo.
              Pois bem: um dos amigos morre e o outro, que estava noivo, não sabendo o que fazer, vai pedir conselhos a seu confessor. O pároco assegura que a palavra deve ser mantida. Então o noivo vai até o túmulo do amigo convidá-lo para o casamento.  O morto aceita o convite de muito bom grado. No dia da cerimônia, não diz uma palavra sobre o que vira no outro mundo.No final do banquete ele fala:
             ----- Amigo, como lhe fiz este favor, você agora deve me acompanhar um pouquinho até minha morada.
            O recém-casado, não resistindo à curiosidade, pergunta como era a vida do outro lado.
O morto, fazendo um pouco de suspense, responde dessa forma:
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"O livro é um lugar de papel e dentro dele existe sempre uma paisagem. O leitor abre o livro, vai lendo, lendo e, quando vê, já está mergulhado na paisagem. Pensando bem, ler é como viajar para outro universo sem sair de casa. Caminhando dentro do livro, o leitor vai conhecer personagens e lugares, participar de aventuras, desvendar segredos, ficar encantado, entrar em contato com opiniões diferentes das suas, sentir medo, acreditar em sonhos, chorar, dar gargalhadas, querer fugir e, às vezes, até sentir vontade de dar um beijinho na princesa. Tudo é mentira. Ao mesmo tempo, tudo é verdade, tanto que após a viagem, que alguns chamam leitura, o leitor, se tiver sorte, pode ficar compreendendo um pouco melhor sua própria vida, as outras pessoas e as coisas do mundo."
Ricardo Azevedo

Atividade pontuação projeto contos de assombração

PROJETO CONTOS DE ASSOMBRAÇÃO

 Atividade de pontuação texto “ O COMPADRE  DA MORTE” de CÂMARA CASCUDO

1. O conto que você leu sobre a Morte, possui muitas versões. Conheça um trecho da versão escrita por Câmara Cascudo e reescreva-a organizando o diálogo.

O médico foi perguntando pela vida dos amigos e conhecidos e vendo o estado das vidas, até
que lhe palpitou perguntar pela sua. A Morte mostrou um cotoquinho no fim. Virgem Maria! Essa é que é a minha? Então eu estou, morre-não-morre! A Morte disse Está com horas de vida e por isso eu trouxe você para aqui como amigo, mas você me fez jurar que voltaria e eu vou levá-lo para você morrer em casa. O médico quando deu acordo de si estava na sua cama rodeado pela família. Chamou a comadre e pediu Comadre, me faça o último favor. Deixe eu rezar um Padre-Nosso. Não me leves antes. Jura? Juro prometeu a Morte. O homem começou a rezar PadreNosso que estás no céu... e calou-se. Vai a Morte e diz Vamos, compadre, reze o resto da oração! Nem pense nisso, comadre! Você jurou que me dava tempo de rezar o Padre-Nosso, mas eu não expliquei quanto tempo vai durar minha reza. Vai durar anos e anos... A Morte foi-se embora, zangada pela sabedoria do compadre.

Caio? texto de Angela Lago

                 Caio?

           Em Bom Despacho tinha uma fazenda à venda, mas ninguém queria comprar: era mal-assombrada.
Quando o preço chegou lá embaixo, veio de Luzes um comprador para fechar negócio.
O caseiro aconselhou o homem a passar a noite na fazenda e deixar a decisão para o dia seguinte. E o homem ficou para dormir.
            De madrugada, acordou com uma voz cavernosa:
------ Caaaaaaio? Caaaaaaio? – a voz repetia.
Acontece que o homem se chamava Caio. Ele estranhou muito e foi com custo que gaguejou:
------ A-a-a-qui.
E na mesma hora um osso de perna caiu em cima dele.
O homem gelou. Mas não adiantava correr, a assombração sabia até seu nome. Melhor era continuar deitado e se cobrir todinho.
Dali a pouco o vozeirão recomeçou:
------ Caaaaaaio? Caaaaio?
E se a assombração não soubesse o nome dele coisa nenhuma e estivesse só perguntando se podia cair? Por via das dúvidas, Caio murmurou:
------ Sim.
Caiu outro osso. E Caio matutava. Será que a assombração estava pensando que “Sim” queria dizer “Sim, pode cair”? Ou “Sim, sou eu, o Caio”? Resolveu desvendar a questão de uma vez por todas. 
-----Eu!?!
            Caiu mais um osso.
De novo:
----- Caaaaaio? Caaaaaaaaaio?
E o Caio, para testar:
---- Cai!
Caiu outro osso.
Aí o Caio começou a achar que a assombração estava gozando a cara dele.
------ Caiiiuuuu!? – por coincidência, a assombração desafinou nessa hora.
O homem teve um treco. Deu dois tiros para o alto, chorando nervoso:
----- Cai, mas cai logo, que eu não aguento mais essa história!
E para a surpresa, quem despencou do forro do teto foi o caseiro, que não queria dono novo na fazenda onde ele gostava de vadiar.

LAGO, Ângela. Sete histórias para sacudir o esqueleto. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002

Interpretando o texto
1.   Releia:

Quando o preço chegou lá embaixo, veio de Luzes um comprador para fechar o negócio.

a)    O que quer dizer a expressão “o preço chegou lá embaixo”?

R=_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
b)Por que o preço chegou lá embaixo?
R= __________________________________________________________________________________
c) Por que a palavra Luzes está escrita com inicial maiúscula?
R= __________________________________________________________________________________
d) Que negócio se pretendia fechar?
R= __________________________________________________________________________________
2. Narrador é quem conta a história. Leia o trecho e copie apenas a frase que pertence ao narrador:
De madrugada, acordou com uma voz cavernosa:
------ Caaaaaaio? Caaaaaaio?  [...]

R= ______________________________________________________________________________
3. No texto a palavra Caio tem dois significados. Quais são eles?
R=________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
4. O  motivo pelo qual o comprador achou estranho quando a assombração disse: “Caio? Caaaaaaaaaaio?” foi:
(  ) A assombração queria cair.  (  ) O nome do comprador era Caio. (  )  O nome da assombração era Caio.
5. Por que o homem deu dois tiros para o alto?
R= __________________________________________________________________________________
6. Por que o caseiro armou toda essa confusão?
R = __________________________________________________________________________________
7. Enquanto lia o conto, o que você imaginou sobre a voz? Por quê?
R=__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
8. Os contos são narrativas e costumam apresentar alguns elementos característicos: fato, lugar, tempo, personagens, motivo.
Responda às questões, com os elementos do conto Caio:
a)    O que aconteceu? (fato)
R= _________________________________________________________________________________
b)    Onde? (lugar)
R= _________________________________________________________________________________
c)    Text Box: R= ____________________________________________________________________________________________Quando? (tempo)
d)    Quem participou? (personagens)
R= _________________________________________________________________________________
e)    Por quê? (motivo)
R= _________________________________________________________________________________
9. Nos contos de assombração, o modo de contar é essencial: quanto mais suspense, melhor. Releia:
De madrugada, acordou com uma voz cavernosa [...]
Dali a pouco o vozeirão recomeçou [...]

a)    Qual a intenção da autora ao escolher as expressões destacadas?
R= __________________________________________________________________________________
10. Releia o texto e copie três palavras, expressões ou frases que a autora empregou com a intenção de mostrar o medo do comprador.
R=________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
 11. Em sua opinião por que a história acontece à noite?

R=__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
12. Copie o trecho onde acontece o ponto máximo de suspense (clímax).
R=________________________________________________________________________________________________________________

13. Por que a autora só conta no desfecho (final) que a assombração era o caseiro?
R=__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________